Olha, sinceramente eu não sei de que planeta pertence certos seres que habitam o mesmo espaço que eu. Ás vezes me sinto deslocada, inserida aqui. São bilhões de pessoas, mas parece que a minoria faz alguma diferença. Preciso constantemente desabafar, pra não sufocar. Ultimamente ando percebendo que há muito eu te amo pra pouco tempo juntos, muita pegação pra pouca informação, muito mimimi pra pouca atitude. A vulgarização dos sentimentos me choca, os relacionamentos são efêmeros.  E eu continuo no meu sistema fora de moda, medindo o que falar pra não desapontar, sentindo de mais e falando de menos, porque acredito que quem demonstra demais, sofre por desespero. Os sentimentos sofrem uma mutação incrível, se ama num dia, desama no outro. O instantâneo vale mais do que achar a essência das coisas. O mais engraçado é quando sou tachada de coração de pedra, por não me entregar tão fácil e não ficar falando amor e todos esses falsismos ditos por aí.  Digo e repito, quantas vezes for preciso que as palavras para mim têm um peso enorme, é como oração, eu acredito no poder que elas trazem, e se o que me dizem não condizem com as atitudes, de nada vale abrir a boca. Pode me chamar de coração de pedra. Nem ligo. No fim é o que pessoas como eu devem ser: fortes, porque aguentar isso não é para qualquer um e acaba que somos atingidos por indivíduos  que se dizem muito amorosos. No fim, superam rápido, porque não era nada profundo, tudo superficialidade, vem de passagem e não retiram, nem levam nada, de bom nem de ruim, porque conteúdo que preste, não há. Não somam e ficam no zero a zero. Fico pasma e tenho pena por tal pensamento fugaz e fútil. Eu sempre fico com milhares de pulgas atrás da orelha quando a bondade é demais e quando não há um deslize, é aí que o tombo é maior, e ao invés de ficar só com um pé atrás, fico com os dois porque minha intuição raramente falha, minha observação de comportamentos é muito detalhada e minhas previsões são certeiras. Confio no amor discreto, sem estampas, adjetivos demasiados e cerimônias, gosto da simplicidade e verdade, coisas fáceis de fazer que são difíceis de encontrar, e a escassez disso deixa minha alma entristecida. Então gente, se vocês souberem, por favor, me avisem onde é que os sentimentos nobres foram parar porque estou à procura faz tempo.

Fingir contentamento é o que vejo em cada sorriso torto. Ninguém quer estar onde está. Satisfação então é artigo de luxo. A moda é ter status, é melhor aparecer, do que ser, só apresentar ao invés de mostrar. A identidade está falsificada pela influência do meio. Acho que existe um novo tipo de distúrbio pra isso: vazio existencial.

Aviso aos desentendidos que não é fácil moldar coração assim na era em que se recicla tudo, até sentimentos. Comigo é solidez, matéria rara em tempos de relacionamentos líquidos que vão pelo ralo em questão de segundos.  Onde tudo é renovável e descartado, prefiro  ficar  no meu canto, consertando sentimentos enquanto outros preferem fazer a troca do que tem por um modelo mais atual. Estou ultrapassada. Sabe por quê? É que não passo da linha do meu bom senso. Só por isso.


Penso bem, antes de dar a última palavra a alguém. Se digo, não repito e não volto atrás para inserir um porém, nem invento de incluir três pontos onde já se tem um ponto, o final. Agora a vírgula é meu silêncio, minha interrogação é o tempo. Foi o parênteses que abri num momento da vida, abri mão de complicação e fechei com a simplicidade. Das coisas, pessoas, circunstâncias, sentimentos. O esquema é sim ou não, quer ou não quer, faz ou desfaz. Desapeguei de “porquês” e os “ e se”. Ou é ou não é. Meio termo não serve para quem é cheia de decisão e não sabe ficar encurralada em indecisão. Ou chego com tudo, ou chego com nada, intensidade no que faço é minha entrega sem garantias, saio com nada, mas dou meu tudo, sempre. Abro aspas e deixo guardado por lá que o que for me pertencer que permaneça, e as brechas deixadas, que sejam preenchidas se for de valia. Exclamo que quero mais é leveza, clareza e gentileza! 

Palavras Mágicas


Era ainda pequena quando meus olhos avistaram um livro. Meus ouvidos   anseavam para ouvir a próxima história e minha imaginação queria voar para longe. A chegada de um novo livro era sempre festejada. Aprendi a cuidar destes tesouros quando lembro o motivo deles serem guardados no alto. É, eu sempre ambicionei te-lôs  na mão e isso não era bom para quem tinha pouca idade, o estrago seria garantido. Me lembro de Branca de Neve, Cinderela, Três Porquinhos e tantos outros clássicos dos contos de fada. E de você, Pinóquio nunca me esquecerei, pois te decorei do início ao fim sem saber ler, apenas ouvia e queria bis.

A voz que me lia era entusiasta, havia uma vida tão viva nas palavras que meus olhos brilhavam e viajavam. O reino distante nunca foi o bastante para mim. O que me bastou foram as mãos me auxiliando a traçar os pontilhados, ver risquinhos sendo transformados em palavras me fascinava. A paciência em ter que ouvir e repetir se tal coisa começava com tal letra, esta era só mais uma, das minhas perguntas incessantes. De repente, movida pelo interesse, já sabia assinar meu nome, e esta foi uma vitória inesquecível. Tudo que via, tentava ler, montar as sílabas e pronunciar os sons era uma tentativa que atiçava meu querer. Quando as falhas foram diminuindo e fui adquirindo o manuseio correto, uma sensação de independência tomou conta de mim e me senti realizada por  interpretar e desvendar o que os adultos tanto liam, saber que era capaz de tal feitio me deixou poderosa.

Os livros para mim são e sempre foi um refúgio aconchegante. Quando um problema vinha , me afundava e devorava livros, era e é uma passagem para um mundo secreto onde as emoções são minhas e me sinto em cada linha. Esse passaporte que possuo, transporta-me  para a fantasia, para os desabores e amores, me faz rir, chorar e torcer. Os personagens viram meus amigos de longa data, me sinto em casa quando estou rodeada por capas, páginas e aquele cheiro familiar. Não sei descrever minha paixão pelos livros e sou eternamente grata a quem me despertou para este mundo mágico. Os livros foi um meio para não me perder, e me achar no meio de linhas e entrelinhas foi uma busca prazerosa. Para adentrar  neste paraíso, você não precisa de abracadabra, é só abrir a mente, largar de preconceitos e se deixar levar pelas histórias, personagens, ideias e estilos. Você começa abrindo uma porta estreita, entra, e  vai alargando o caminho, que é vasto, cheio de surpresas e visões abrangentes. O mundo é vasto, tem coisas demais para se fixar no próprio mundinho, cheio de coisas já conhecidas. Desconhecendo é que um dia a gente se conhece e se entende, e muito do que sou, aprendi com os livros, aprendi a arte da paciência graças à espera do último capítulo para enfim saber o desfecho e descobrir que todo problema tem sua resolução, na hora determinada, pois muitas vezes é para o aprendizado. Sei bem que certas dores de hoje são as alegrias de amanhã e que para tudo há seu tempo.

Admiro os escritores e cultuo-os como se fossem deuses, pois uma mente destas é iluminada pela inspiração e considero como doação preciosa, a entrega deste trabalho encantador. É um jeito delicado de dizer: Ouça meu coração e entenda meus devaneios.

Amo as palavras, por isso faço do papel em branco meu psicólogo, ele me ouve sem falar e permite meu desabafo, enquanto muitas pessoas fingem que ouvem e querem mais é falar inuteísmos, tendo a posse da pseudoverdade. A sensação de viajar no pensamento e deixar as mãos arquitetando palavras é indecifrável. Vai além de mim. Foi aí que eu desisti de achar fórmula exata dos sentidos que me rondam e resolvi então sentir livremente por dentro, e o que der para ser traduzido aqui fora, traduzo, tentando manusear sentimentos em palavras. 

E é preciso assumir de uma vez só que eu sinto tua falta. Isso, simples assim de se resumir, a forma mais sintética de expressar toda essa carência de ti, que me deixa de pés no chão querendo flutuar mais uma vez. Já me esgotei de desculpas esfarrapadas, de me envolver numa película, achando que com isso os que estão afora percebam o quanto sou forte. Puro engano, essa película fina que me envolve e se encontra quase rompida, desgasta-se de vez, quando a sós, o silêncio se intensifica, soando apenas meus soluços presos na garganta, nas tentativas de esvaziar um pouco o conteúdo daquele lugar desconhecido onde se guarda a saudade.


Estou esgotada de gente destemperada, gente preguiçosa que não desloca o pé do chão, gente que fala, mas não tem nada a dizer. Depois que se ganha ritmo e impulso na vida, bate uma vontade enorme de puxar a corda de gente assim e dar uma sacudida pra ver se abre os olhos. Sabe por quê?  Porque dá pra ser tanto e ser tão pouco é covardia ingênua. Então arruma um tempero aí, corra com passo firme, se abrir a boca, fale algo útil, que acrescente em algo e renda bons papos. Não fica contaminando o ar com energia negativa não, isso pega e sobrecarrega; energia renovada e limpa sendo dissipada é que move as coisas. É o que te move.


No momento quero uma dose de paz bem dosada, uma pitada de loucura, bem estar para acompanhar  e felicidade para beliscar. Vou pedir o amor pra viagem, quando chegar em casa, analiso se foi útil trazer ou não. Quer saber? Considero válido se agarrar no que se tem pela frente, desde que você descarte garantias e desconsidere possíveis previsões. Sem pensar e pesar, vou me lançar e ver onde caio. Já tenho anestesia, é só tampar com curativo e esperar cicatrizar. Depois peço uma rodada de desilusão, vem o porre da decepção. A ressaca é ter você no pensamento e o remédio pra passar é só desapegar! Pronto, passou dona moça. Com a prática, um dia você aprende, eu espero. 

Não sei se é ironia do destino, mas o engraçado é que quanto mais me envolvo com esses caras por aí, mais eu sinto sua falta. Quanto mais “tipos” conheço, mais eu lembro do seu. Não adianta, no final de tudo e todos sempre corro ao seu encontro. Teu abraço inseguro é meu refúgio, é lá que me sinto em casa, e consigo me destravar. Estou perdida, você foi embora e levou junto o cheiro e o aconchego que eu sentia. Hoje a saudade veio a tona, a tristeza me apertou. Desculpa, é que pensei em nós. Fui eu quem inventei esse negócio de não pensar pra não sentir. Até que funciona, quando se cumpre. Mas é que eu tenho a maldita mania de pensar no que não está ao meu alcance, e sinto, consequentemente. Daí acontece as recaídas doloridas. Queria poder bater na porta da tua casa e entrar, mas você não está mais lá. O problema é que quanto mais fujo e tento encontrar novidades para distrair, estas só me fazem querer preferir você. 


Categoria é desfilar com humildade e vestir um sorriso estampado no rosto, exalar o aroma agradável de ser o que se é. É dar a cara à tapa, sabendo que isso doí, mas que mascarar a consciência é fantasia de mau gosto. Mantenho a postura na personalidade e se surgir inconveniências em tom e nível alterado, eu me equilibro sem deixar abalar, respondo com fineza e palavras elegantes certos recalques sem cair do salto, porque têm gente que não vale nosso rímel borrado, nem a nossa queda em público, têm gente que merece mesmo é o nosso silêncio, e atitudes refinadas, com estilo e classe. Eu fujo de faltas; falta de educação, falta de bom senso, falta de sentimentos nobres, e mais ainda falta de caráter. De agora em diante, o que não for útil, descarto sem remorso, o que for pra valer uma hora vai aparecer, pois o que não for de valia, o tempo me mostra, com ele muita coisa se vai, outras chegam, são encontros e despedidas constantes, mas apenas o que é para ser, permanece. E esta é uma lição que eu queria ter aprendido antes, mas aprendi também que tudo têm o seu tempo e o seu porquê de acontecer. E eu sei que a passarela é bamba, sendo assim mantenha a postura e vá, que você chega lá!


Eu sinto uma baita falta de você, do seu jeito enigmático, suas palavras escondidas, estas que se eu olhasse bem nos teus olhos estavam escritas lá, conheço seus esconderijos mais ocultos, descubro tuas manhas e manjo sem você perceber, capto teu sorriso de garoto faceiro, seu lado inexpressivo que não demonstra o que realmente sente. A gente se entende né, juntos não fazemos sentido, somos o encaixe mais louco misturado às manias mais tolas. Sabe quando eu tenho tudo pra te dizer mas as palavras não saem? É, eu sei que você sabe, afinal nossas conversas são assim, um tentando adivinhar o que há por trás de uma palavra que poderia talvez ter outro significado inserido noutro contexto. Foi assim e é assim. Nunca formaríamos um casal desses de filmes ultrarromânticos, nosso roteiro é outro, somos ligados pelo desapego de cerimônias, pela sinceridade espontânea, não temos segredinhos próprios  guardando segundas intenções, na primeira a gente já diz e faz.  Admiro nossa falta de jeito, isso é tão original, criamos nosso próprio jeito desajeitado inseridos num espaço já programado. É a nossa fuga de tudo e de todos, o refúgio conhecemos bem. Nossos caminhos tão estreitos, agora estão mais largos, a gente se perdeu de vista, vez em quando dá um oi e tchau, as circunstâncias fizeram isso, mas como eu te disse, não vamos pensar para não sentir. É, não pensar pra não sentir, não pensar pra não sentir. Eis o meu mantra para afastar toda essa saudade, que pelo visto não está funcionando, mas a técnica ainda está em fase de teste... Até quando? 

E é assim que os dias mais surpreendentes acontecem... em meio ao NADA, pois quando se tem um plano traçado em fatos postos em ordem, as faceiras da vida não gostam de pregar peças num quadro em que ela quer pintar e bordar a vontade, sendo atuação autonôma e principal. E você fica aí no monta e desmonta do plano A, enquanto a vida está ali, à espreita louquinha pra te jogar logo lá no plano Z sem direito a tempo para sequer pensar numa estratégia de ação. E é aí que se encaixa a graça de esperar o inesperado.