Vitrine de Natal

 
Nessa época de correria eufórica, onde a população faz uma maratona rumo às compras, onde as lojas entram no seu período fértil, onde as luzes coloridas enfeitam a paisagem, eu me retiro do clima e vejo por um ângulo que poucos veem. Minha vitrine de natal não é tão bonita para uns, mas para meu espírito que nessa época se encontra em estado de sensibilidade mais aflorada, é a que se enfeita melhor.
 
Por detrás da vitrine, observo aqueles que não tem casa, que passam fome, enquanto famílias estão em suas casas fazendo seus banquetes especiais, vejo aqueles que passam frio, necessidades básicas e dignas enquanto outros desfilam por aí com etiquetas pregadas até na alma, fazendo propaganda  para marcas famosas, esbanjam dinheiro no supérfluo onde mostrar o que se tem é mais importante que fazer o bem. Observo pessoas solitárias que não tem nem o fiel amigo do homem para companhia, e que ficam deslocadas em seus sofás, assistindo à programação sensacionalista da TV, enquanto famílias inteiras se reúnem. De um lado dá pra assistir a tristeza e angústia, e de outro a felicidade e a realização. Nos gestos e palavras, percebo a humildade e sinceridade embutidas, mas também  há uma descarga de falsidade e ego lançados por aí.
Olhar as mazelas enquanto a maioria só vê beleza, dá um aperto no peito e um vazio inexplicável, sei que sinto um pouco as dores do mundo.  Daí fico no meu canto, sentindo apenas, porque tentar falar e se manifestar pode parecer maluquice numa sociedade ególatra onde o individual é o topo da pirâmide. E o que eu faço?  Me camuflo, participo dos dois lados da vitrine, o que há por trás e o que há por fora dela. E fico pensando qual é a realidade pura, pois parece que em tudo há máscaras de disfarce onde o real é despistado mesmo que sutilmente. Acho que isso é a realidade inventada, realidade programada onde uns se enquadram outros não. As pessoas acham bonito doar cestas de alimentos, doar brinquedos para crianças carentes, fazer visitas aos esquecidos, parece que é um status da época, bonito é, mas é uma atitude de data, quem dera se fosse sempre, aí sim seria uma boniteza, mas quando se passa o período é raro se ver tais acontecimentos sendo praticados.
Encantador é a inocência das crianças. Aquela fantasia mágica de acreditar em papai noel, imaginação que voa longe e livre. Tem que se comportar o ano inteiro para ganhar o presente que se pede nas cartinhas endereçadas ao velhinho bom que mora lá no pólo norte e que virá na noite de natal pilotando suas renas no céu , descerá a chaminé com um saco lotado de presentes .Aí os pequenos custam a pregar o olho de tamanha ansiedade, ficam apreensivos para amanhecer logo e correr rumo à árvore natalina, fazendo a colheita dos presentes. Chegam com aqueles olhinhos que brilham tanto e aquele sorriso gostoso estampado no rosto angelical, como se o mundo todo estivesse empacotado ali. Observando e lembrando dá nostalgia que aperta, mas que conforta e eu resgato um pouco essa mágica que brilha diante dos meus olhos. Tento carregar valores da infância que tive e que independente da fase que eu esteja, não me esqueça da criança que um dia fui e que essa foi uma fase sem maldades e que eu nunca corte essa raiz.
O meu lado da vitrine é triste né? É esta a sensação que tenho de natal, ainda não achei a essência, deve ser por me preocupar demasiadamente com tais situações que se passa nessa vitrine dupla face, e me perco de um significado exclusivo, adaptado para mim. Mas diante de tudo, sinto uns com energia de coração puro, onde a sinceridade e magia me contagia. E eu capto. E você o que vê?
 

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