Era
ainda pequena quando meus olhos avistaram um livro. Meus ouvidos anseavam para ouvir a próxima história e
minha imaginação queria voar para longe. A chegada de um novo livro era sempre
festejada. Aprendi a cuidar destes tesouros quando lembro o motivo deles serem
guardados no alto. É, eu sempre ambicionei te-lôs na mão e isso não era bom para quem tinha
pouca idade, o estrago seria garantido. Me lembro de Branca de Neve, Cinderela,
Três Porquinhos e tantos outros clássicos dos contos de fada. E de você,
Pinóquio nunca me esquecerei, pois te decorei do início ao fim sem saber ler,
apenas ouvia e queria bis.
A voz que me
lia era entusiasta, havia uma vida tão viva nas palavras que meus olhos
brilhavam e viajavam. O reino distante nunca foi o bastante para mim. O que me
bastou foram as mãos me auxiliando a traçar os pontilhados, ver risquinhos
sendo transformados em palavras me fascinava. A paciência em ter que ouvir e
repetir se tal coisa começava com tal letra, esta era só mais uma, das minhas
perguntas incessantes. De repente, movida pelo interesse, já sabia assinar meu
nome, e esta foi uma vitória inesquecível. Tudo que via, tentava ler, montar as
sílabas e pronunciar os sons era uma tentativa que atiçava meu querer. Quando
as falhas foram diminuindo e fui adquirindo o manuseio correto, uma sensação de
independência tomou conta de mim e me senti realizada por interpretar e desvendar o que os adultos tanto
liam, saber que era capaz de tal feitio me deixou poderosa.
Os
livros para mim são e sempre foi um refúgio aconchegante. Quando um problema
vinha , me afundava e devorava livros, era e é uma passagem para um mundo
secreto onde as emoções são minhas e me sinto em cada linha. Esse passaporte
que possuo, transporta-me para a
fantasia, para os desabores e amores, me faz rir, chorar e torcer. Os
personagens viram meus amigos de longa data, me sinto em casa quando estou
rodeada por capas, páginas e aquele cheiro familiar. Não sei descrever minha
paixão pelos livros e sou eternamente grata a quem me despertou para este mundo
mágico. Os livros foi um meio para não me perder,
e me achar no meio de linhas e entrelinhas foi uma busca prazerosa. Para
adentrar neste paraíso, você não precisa
de abracadabra, é só abrir a mente, largar de preconceitos e se deixar levar
pelas histórias, personagens, ideias e estilos. Você começa abrindo uma porta
estreita, entra, e vai alargando o
caminho, que é vasto, cheio de surpresas e visões abrangentes. O mundo é vasto,
tem coisas demais para se fixar no próprio mundinho, cheio de coisas já conhecidas.
Desconhecendo é que um dia a gente se conhece e se entende, e muito do que sou,
aprendi com os livros, aprendi a arte da paciência graças à espera do último
capítulo para enfim saber o desfecho e descobrir que todo problema tem sua
resolução, na hora determinada, pois muitas vezes é para o aprendizado. Sei bem
que certas dores de hoje são as alegrias de amanhã e que para tudo há seu
tempo.
Admiro os
escritores e cultuo-os como se fossem deuses, pois uma mente destas é iluminada
pela inspiração e considero como doação preciosa, a entrega deste trabalho
encantador. É um jeito delicado de dizer: Ouça meu coração e entenda meus
devaneios.
Amo as
palavras, por isso faço do papel em branco meu psicólogo, ele me ouve sem falar
e permite meu desabafo, enquanto muitas pessoas fingem que ouvem e querem mais
é falar inuteísmos, tendo a posse da pseudoverdade. A sensação de viajar no
pensamento e deixar as mãos arquitetando palavras é indecifrável. Vai além de
mim. Foi aí que eu desisti de achar fórmula exata dos sentidos que me rondam e
resolvi então sentir livremente por dentro, e o que der para ser traduzido aqui
fora, traduzo, tentando manusear sentimentos em palavras.
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